Como uma pessoa “medrosa”, Rachel pensou que não iria fazer uma viagem sozinha nunca na vida. É só pensar ou falar em viagem sozinha que ele aparece: o medo. Rachel compartilhou nesse relato que fala como ela levou o medo na bagagem, mas não deixou de realizar a vontade dela de viajar só. E pra quem pensa que o medo vai embora, leia o relato até o fim!
Argentina e Chile 2018 | Por Rachel Soares
Quando tomei a decisão de fazer uma viagem sozinha, tive a impressão de que não conseguiria. Tinha muito medo e de tudo: de altura, de pessoas, de não conseguir reagir às situações de perigo, de estradas, de não me adaptar às novas rotinas e lugares, enfim… todos os meus medos estavam aflorados antes da viagem.
Um dia, uma tia me perguntou: “Como está a expectativa para a viagem?”. Respondi quase chorando: “Medo!”. Então, ela me disse com a maior calma: “Se você não tivesse, seria uma irresponsável. Você vai viver uma situação completamente nova em sua vida. Tenha medo, sim!”.
Fiquei refletindo sobre suas palavras. Eu pensava em todas as situações possíveis para me proteger, como não falar que viajava sozinha ou tentar não parecer turista nas cidades. Perdia o sono e quando dormia, tinha pesadelos. A sensação era de que aconteceria algo para impedir aquela viagem. Eu nunca me vi fazendo uma coisa assim. Me senti medrosa demais para fazer uma viagem sozinha.
Eu havia me aplicado pelo Worldpackers para ficar em Curitiba primeiro. Pensei: “Bom, vou estar em território nacional ainda e, caso eu não goste da experiência ou aconteça algo, voltaria para minha casa e esqueceria essa ideia”.
Uma medrosa e uma viagem
Quando cheguei ali, fui conhecendo as pessoas e minha visão começava a mudar, já me sentia mais confortável. Quando comentava que viajava sozinha, eu ouvia: “Corajosa você, não?”. Não, eu não sou. Sou, de longe, a pessoa mais medrosa que conheço. E conheci mulheres que também estavam sozinhas na estrada. Me precavia de alguma forma.
Como, por exemplo, viajava durante a noite para chegar à nova cidade durante dia, pesquisava o roteiro e pontos de referência que pudessem me servir, informações sobre o transporte público local, evitava passar por ruas desertas. Estava sempre alerta, como em qualquer outro lugar, inclusive em minha cidade.
Quando fui da Argentina para o Chile, por um descuido, cheguei à noite em Puerto Varas. Encontrei muitas pessoas que me ajudaram, como os motoristas do ônibus que me cederam suas conexões de internet durante o trajeto para encontrar um Couchsurfing ou hostel. Consegui uma hospedagem com o Jaime, um rapaz que morava sozinho. Quando desembarquei, às 23h, consegui uma internet pública e o avisei.
Ele foi me buscar de taxi e fomos à sua casa. A cidade estava deserta. Então, ficamos conversando, avisei à família e amigos, e enviei a localização. Observei todas as portas e fechaduras da casa. Depois de um tempo, relaxei. Eu ficaria uma noite em sua casa, mas acabei ficando 4 dias. Ele me levou para conhecer umas cidades vizinhas super charmosas. Nos tornamos amigos e ele foi um importante apoio ali.
O medo nas próximas viagens
Um fato muito interessante nesse processo era que todas as vezes que me sentia confortável em um lugar, sentia também que era hora de sair dali. Mas quem resolvia dar as caras? Ele: o medo. E seguíamos juntos na viagem, de braços dados, como velhos amigos. Aliás, isso foi muito bom.
É o tipo de sentimento que, se usado com moderação, te faz muito bem, mas não deixo que ele me trave. Passei a amar a sensação do desconhecido, das descobertas, conhecer outros sabores, outras culturas. Ele continua aqui, e sei que nunca vai me deixar.
Quando penso em fazer outra viagem dessas, sinto a sensação da primeira vez, me sinto viva. Viajar sozinha não significa estar sozinha, significa que você é a dona do seu tempo, da sua vontade.
Você pode mudar o roteiro se quiser, ou ficar um pouco mais, se preferir. Afinal, isso é liberdade!
Enfim, abrace teu medo na viagem e vai!
Esse relato foi escrito pela viajêra Rachel Soares, você pode acompanhar ela no perfil @racheloliveira27 .