Como aliar a viagem sozinha no seu processo de autoconhecimento?

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O que você vai ler nesse artigo

Aposto que você já conheceu uma mulher que já fez uma viagem sozinha (ou é ela) e que fica falando para todos os ventos como isso te trouxe autoconhecimento. Mas, vem cá, vamos falar de fato sobre o que realmente é esse tal de autoconhecimento e como que a viagem sozinha nos ajuda?

Esse é um assunto bem longo, e é por isso que eu preparei uma série com o tema “autoconhecimento e viagem” para que a gente possa se aprofundar de fato nesse tema. Este texto vamos falar sobre o que é autoconhecimento e como a viagem sozinha nos ajuda nisso.

Até por ser autoconhecimento, algo tão particular e individual de cada um, fica impossível de colocar aqui algo que você vai se identificar 100%. Pode ser que o autoconhecimento na viagem sozinha venha de outras formas pra você, pode ser que você nem tenha parado pra pensar nisso.

E ela não é igual pra todos, até porque não tem receita ou fórmula mágica que te faça alcançar o “auge” desse se conhecer. Sobre isso eu falo mais no texto #3, onde compartilho algumas das armadilhas do autoconhecimento que podem nos afastar desse processo. E no texto #4 eu falo como o autoconhecimento pode te ensinar mais sobre o mundo e as diferentes culturas que passamos.

#1 | Como aliar a viagem sozinha no seu processo de autoconhecimento? [você está aqui]

#2 | Por um autoconhecimento mais realista: 15 armadilhas

#3 | O que autoconhecimento coletivo te ensina sobre o mundo

Mas agora, vamos para o primeiro texto!

Antes de começar, o que é autoconhecimento?

Auto conhecimento é o ato de se conhecer. Mas é aquele se conhecer realmente, observar os pensamentos, sentimentos, refletir sobre as suas partes ruins também.

Com o dia a dia, nós não temos muito tempo para olhar para nós, a rotina devora todas as nossas horas e ficamos como última prioridade de nós mesmas. Vivemos quase que no automático. Existem diversas ferramentas que vão nos tirar desse modo automático de viver e vão nos fazer viver mais o presente (para as mentes ansiosas) e outras que também vão nos fazer olhar com maior profundidade para nós mesmas.

E nós sabemos que temos diversas fases, sentimentos, pensamentos. E nem todos vão ser bons. Não tem como fazer autoconhecimento sem olhar pra parte em si mesma que não gosta, que te causa desconforto. Autoconhecimento é olhar pra TODOS os nossos lados, os bons e os ruins que existem dentro de nós.

Mas pra que se conhecer?

Se vai doer, por que fazer isso? Por que mexer “no que está quieto”? Para mudar hábitos, comportamentos que estão te afetando negativamente ou que você simplesmente não gosta em você.

O autoconhecimento vai além do “o que eu gosto”, o que eu não gosto”, é o:

Qual meu comportamento que tem me prejudicado com as minhas amizades, família?

Como eu realmente me enxergo, me sinto sobre mim mesma?

Por que eu sempre acabo me relacionando mais com pessoas que me apagam?

O que eu gostaria de mudar na minha forma de lidar com o trabalho, dinheiro?

Qual é o tipo de relacionamento amoroso que eu gostaria de viver?

Eu me estresso quando algo sai do meu controle / planejamento?

Por que será que eu sinto inveja de tal pessoa? Eu a admiro? Queria ser igual a ela?

Qual o motivo de sentir isso quando tal coisa acontece?

Por que eu tenho a tendência de me isolar e não pedir ajuda?

O que é importante para mim num estilo de vida que quero viver?

Por que que tenho tanta dificuldade em confiar nas pessoas?

Eu quero que me vejam como uma pessoa forte e inabalável? Por que? Eu sou assim?

Eu não tenho como listar aqui todas as possíveis dores e questionamentos, porque isso é TÃO único seu que fica até abstrato e fora da sua realidade. Pare um pouquinho, fique em silêncio, se questione sobre a sua vida, seus trabalhos, relacionamentos… o que te deixa desconfortável?

Aliás, existe um exercício muito interessante que é: pegue esse desconforto e se pergunte o porquê dele. Agora que tem a resposta, pergunta o porquê de novo. E mais uma terceira vez. Esse “ciclo de porquês” vai te fazer ir cada vez mais fundo nos motivos dos seus comportamentos e pensamentos.

Expectativa x realidade

E eu digo “sempre que se perder” porque não existe um auge do autoconhecimento. Não temos como dizer “pronto, já me conheço e acabou.” Nós temos tantas fases em nossas vidas que hora ou outra vamos ter crises com a gente mesma, novos desafios, novas amizades, novos tudo. E volta e meia vamos precisar realinhar esses questionamentos com a gente mesmo.

Vamos ter novas dores, novos pensamentos negativos, novos comportamentos que nos atrapalham. E o autoconhecimento é não deixar cair no automático de novo, é realmente se questionar o porquê de algumas atitudes, falas e pensamentos na vida.

E piora quando falamos de comparações e romantização do autoconhecimento, como se fosse apenas uma jornada gostosa. Na verdade ela pode doer, e podemos até precisar de ajuda para olhar para algumas das nossas feridas.

Tem também outras muitas armadilhas, que eu escrevi no texto #3 dessa série de autoconhecimento: “15 armadilhas em um processo de autoconhecimento realista”.

Nesse vídeo da Gabi Oliveira ela conta melhor sobre como foi o processo pra ela com autoconhecimento e como a terapia a auxiliou a olhar as partes nela que doíam ou não gostava. E nesse outro vídeo daqui a Nataly Neri compartilha os questionamentos dela quando se questionou: “por que eu estou demorando tanto para me formar na faculdade? Do que eu tenho medo?” E como isso está atrelado ao autoconhecimento.

Você gosta da sua versão sem ser na viagem?

E vale ressaltar também que o processo de autoconhecimento é justamente isso: um processo. Não é na viagem sozinha que você vai se conhecer e pronto. Porque a nossa autoobservação acontece em interações com outros, desconhecidos, mas também com amigos, familiares.

A gente tem que se observar também fora do lazer, fora da viagem sozinha. E se observar só em momentos legais, em que estamos mais leves, com menos responsabilidades, acaba que é mais fácil entrarmos em contato com a nossa versão que mais gostamos.

Mas e quando estamos nos dias mais comuns da nossa vida? Porque essa versão de nós também existe, e ela é importante para compor o quebra-cabeça de quem somos.

Como você lida com a rotina massante?

Qual a forma que você se enxerga em dias comuns?

Como você se cuida no dia a dia?

“Quem você quer ser?”

A partir do momento que você identifica comportamentos, pensamentos teus que não gosta e que estão te prejudicando, como mudá-los?

O primeiro passo para mudar é saber o que você quer mudar em você, e é nisso que o autoconhecimento vai te ajudar. A se observar e ficar atenta quando repetir o mesmo padrão. Refletir em como pode fazer diferente para ter resultados diferentes. Parece clichê, mas se todas as suas ações até hoje te levaram pro mesmo lugar e você não gosta disso, repetir não vai adiantar.

É claro que não temos o controle de tudo. Por mais que queiramos acreditar que tudo depende de nós, ainda vivemos em sociedade e algumas pessoas vão ter mais tempo para se olhar, se cuidar. Mas tem coisas que estão no nosso alcance, alguns questionamentos bobos sobre a vida e os nossos comportamentos e sentimentos.

Sair do automático é um passo e se observar, se questionar, nos faz mudar para sermos a pessoa que queremos ser.

E saindo um pouco da parte individual, eu acredito que o autoconhecimento também pode ser uma ferramenta para conhecer o outro, se abrir pra conhecer novas culturas e entender os desafios que você tem na vida por ser quem é. É sobre isso que eu falo melhor no texto #4!

Viajar sozinha e autoconhecimento

1 | Decisões na viagem

Escolher viajar sozinha já é uma decisão tomada pensando em você. No entanto, também vale se questionar se não é porque viu tal mulher fazendo isso e a admira, se quer ter um resultado x, e por ai vai. Se a vontade for genuína tua mesmo, curiosidade nesse tipo de experiência, vá.

E pra começar: como escolher para onde viajar sozinha na primeira vez?

É preciso saber o que gosta e o que não gosta (cidade grande? histórica? praia? trilha?…), o que quer conhecer, se quer algo mais agitado ou mais tranquilo. São tantas as opções que cair na tentação de pegar uma lista qualquer de “lugares imperdíveis para viajar sozinha” parece tentador.

Essa é a sua PRIMEIRA decisão sozinha pensando somente em você, não deixe que outra pessoa tome essa decisão por você.

E mais que isso, porque na viagem vamos estar a todo momento tomando pequenas e grandes decisões. E não vamos ter ninguém ao nosso lado para apoiar ou dar outra opiniões, é a sua vontade e nada mais. Isso pode ser assustador no começo, quando talvez não nos conhecemos tanto. Mas depois, com o tempo, com os erros e acertos, fica até fácil.

Quanto mais você for se conhecendo, mas fácil fica de tomar decisões pensando somente em si mesma.

2 | Solidão e tempo

Viajar sozinha já implica na solidão, mas não só na solidão física, porque vamos conhecer outras pessoas. O ponto aqui é que você está longe de quem te conhece, da sua casa, sua rotina, amigos, redes de apoio, tudo. E estar longe disso também te faz olhar com maior distanciamento para você mesma.

Longe do que você conhece e de quem você conhece, você está mais livre para experimentar o novo, experimentar novas versões de si mesma. Não se importar em usar aquela roupa que sempre quis, mas tinha vergonha do que os amigos iriam falar, coisas pequenas assim, ou grandes como: falar não sem medo do que o outro vai pensar. Mas sobre o julgamentos dos outros eu falo melhor mais pra frente…

Vamos voltar pra solidão… em muitos momentos na viagem vamos estar sozinhas, num café da manhã, numa caminhada pela cidade, num pôr do sol na praia. E, sozinhas e com tempo para se observar, refletir, é quando começamos a nos questionar. Paramos para pensar na vida que levamos, nas pessoas que temos por perto, nos tipos de autocuidados que deixamos de lado.

Com esse tempo, começar a perguntar do porquê escolhemos certos caminhos na vida, tomamos tais decisões. O que queríamos ter feito diferente antes, o que gostaríamos de estar fazendo diferente agora. Refletir sobre nossos relacionamentos com amigos, família, amores, e até com a gente mesmo, como a gente tem se tratado.

É um momento para se olhar com tempo.

3| Estar em contato com outros

E, como falamos no tópico anterior, nem sempre vamos estar sozinhas. Vamos conhecer pessoas novas a todo momento, estar exposta a novas visões, novas histórias, novas situações. Inclusive, a Jout Jout contou nesse episódio de podcast aqui conta umas histórias sobre como o encontro com o outro nos ensina sobre nós.

Ao conhecer histórias de pessoas diferentes de você, das pessoas que você já convive, te abre a perspectiva de ouvir outras realidades. Outras visões de mundo, religiões, medos diferentes dos teus, sonhos… tudo. E isso é diferente de ler em livros, ver em filmes, porque por mais que seja incrível também aprender assim, é outra profundidade com a outra pessoa ali em carne e osso.

Nas conversas e situações com outros desconhecidos também conhecemos muitos de nós mesmos: nos identificamos e discordamos do que vemos / ouvimos. Lembro quando uma mulher no meio de uma trilha me parou e disse: “tem uma reunião lá em cima?” Eu fiquei olhando confusa, e depois entendi que eu estava andando rápido, sem nem parar para beber água e sem nem aproveitar a paisagem que nos rodeava. Ela me sentou, abriu a garrafinha e falou: “olha essa paisagem, não precisa correr”.

Ou então quando uma pessoa me olhou cozinhando e falou: “você parece gostar muito de cozinhar”. Eu, até então, sempre cozinhei por obrigação, por estar com fome, por ter que preparar a marmita do dia seguinte. Nesse momento, pensei: “nossa, sim… eu gosto”. E a partir dai passei a aproveitar mais esses momentos, a comprar temperos diferentes, aprender novas receitas, comprar alimentos que não conhecia.

É com o contato com os outros que também nos conhecemos.

4 | Se desafiar a sair da zona de conforto

Viajar sozinha já é sair da zona de conforto, e isso vai te trazer situações novas que a qualquer momento você vai se testar. Como será que você lida quando não entende a língua local? Ou quando o ônibus se atrasa por horas e horas pra chegar? E pra lidar com desentendimentos com pessoas desconhecidas? Ou então, para dizer não para quem acabou de conhecer? E dividir quarto com outras pessoas?

Tudo na viagem sozinha acaba sendo uma oportunidade de conhecer uma parte de si.

Na viagem acompanhada é diferente porque temos sempre alguém do nosso lado, temos uma distração quase que constante ali. E como estão sempre lado a lado, fica difícil ter tempo para se observar tanto como quando viajamos sozinhas.

Mas quando viajamos, saímos da nossa cidade, já somos instigadas a fazer e conhecer o que não conseguimos onde moramos. Pode ser que seja uma longa caminhada na praia, um tour de cerveja, uma festa de um gênero musical que nunca nem ouviu falar, provar todas as comidas de rua de vê pela frente, aprender um novo idioma ou gírias de outro lugar do país, descobrir que ama acampar e nem tem tanto medo de altura quanto imaginava… são tantas novidades!

E estar em contato com elas nos mostra outro lado de nós mesmas: e se talvez você gostar mais do tempero de tal região? Ou se apaixonar pela história local? Pode ser que queira aderir dormir na rede toda noite, sentiu que fez bem pra sua coluna. Até mesmo a apreciar melhor o sabor do vinho quando voltar pra sua casa e rotina.

Que partes de você ainda não conhece porque não se desafiou a provar e fazer coisas diferentes?

5 | Julgamentos dos outros

Na viagem sozinha é onde também nos vemos longe de todos que já nos conhecem. Nos sentimos mais confortáveis para arriscar fazer algo diferente, talvez pintar o cabelo, fazer um piercing, usar tal roupa que falam mal só que parece confortável, ir a tal show daquela banda que seus amigos fazem piada, se desafiar a entrar no mar mesmo com medo, fazer uma aula de dança apesar de ter vergonha.

Já imaginou quantas coisas novas você poderia fazer numa viagem sozinha?

No começo, é claro que ainda nos importamos, existe sempre comparações e competições em todo ambiente humano. Até mesmo em hostels entre viajantes “desconstruidões“. Mas com o passar do tempo você vai perceber que essas pessoas vão embora, você acabou de conhecê-las, por que se importar tanto com a opinião de um desconhecido? E vai ficando cada vez mais fácil ignorar olhares e frases para simplesmente viver o que você quer viver no momento.

6 | Estabelecer limites e falar “não”

Ao diminuir a importância que você dá para o que os outros vão pensar, falar “não” vai se tornar cada vez mais fácil. Isso porque o autoconhecimento na viagem sozinha vai te permitir olhar pra você mesma e pensar nas suas vontades antes de agradar os outros (desconhecidos ou não).

“Quer ir pra uma balada hoje a noite?” Não.

“Bora fazer uma trilha de 20 km amanhã 5h da manhã?” Não.

“Vamos praquele museu famoso aqui na cidade de tarde?” Não.

“Quer fazer parte do jantar coletivo do hostel?” Não.

No começo você vai se justificar, “estou com cólica”, “marquei de encontrar um amigo na cidade”, “não vai dar, marquei uma chamada de vídeo com uma amiga”, “puts, já comprei janta”. Porque não quer que o outro fique chateado ou com uma má impressão tua. Depois, o “não” vai se tornar uma frase completa porque você entende que não precisa ficar se justificando pra tudo. Vai agradecer os convites e dizer que não quer ou que não pode.

Você vai começar a notar onde é mais difícil pra você falar “não” e a estabelecer limites. Será que é no trabalho? Ou pra família? Pra amigos? Pra você mesma? Isso é algo importante, porque é preciso estabelecer limites até com a gente mesma.

E ao observar onde você permite as pessoas a invadirem mais o seu espaço e a sua vontade, entender o porquê isso acontece, você começa a estabelecer melhor os limites.

7 | Observar o seu olhar pros outros

Mas não é só o olhar dos outros que julga, não é mesmo?

Diferente do nosso dia a dia, na viagem, entramos mais em contato com o novo e o diferente. Em alguns momentos percebemos como o nosso próprio olhar é preconceituoso, como nós julgamos os outros. Porque entrar em contato com o desconhecido também é estranhar o desconhecido. E nisso, sentimos pensamentos, sensações surgirem e que são negativas.

Existem TANTOS julgamentos que passam pela nossa cabeça que nos deparamos com uma parte bem ruim em nós: a preconceituosa, julgadora. O olhar que temos medo no outro, mas agora dentro de nós.

Nossa, como a higiene desse país é horrível“, sendo que ela só não é igual ao padrão de higiene da cultura que estamos acostumadas. “As pessoas nos restaurante, estadias e serviços daqui parecem que não querem trabalhar, atendem muito mal“, ou você que está acostumada com a ideia de que pagar por um serviço é sinônimo de ser servida como rainha?

Entrar em contato com essa parte nossa é ruim, mas é melhor saber que ela existe e lidar com ela, questionar os seus pensamentos, do que ignorar. É como Luísa Ferreira do Janelas Abertas disse no seu livro “Guia pra Viajar pra Dentro e pra Fora”, que virou esse post pro Instagram chamado Como ser um viajante babaca: “Se quiser que tudo seja igual ao que já conhece, melhor não viajar, né?”

Em alguns casos, esse olhar julgador pode ser tanto para o outro quanto nós mesmas nos julgarmos internamente, e, assim, nos travar em tantas aventuras e experiências que poderíamos viver.

8 | Observar o olhar dos outros pra você

Escute o que te contam sobre você

Volta e meia as pessoas fazem comentários sobre nós, nos dizem algo que pode ser positivo ou negativo sobre nossos comportamentos.

“Atrasada de novo, ein?”

“Obrigada por ter me acolhido quando eu precisei.”

“Êh, Dori, esquecidinha…”

“Você parece que gosta de cozinhar pra todo mundo”

O que as pessoas comentam pode ser que a gente se identifique ou não, mas valem parar para pensar no que elas falaram. Mesmo que a pessoa tenha falado de um lugar de dor, de crítica, sempre vale pensar se aquilo é algo em nós que nós nem paramos pra refletir.

Será que eu tô realmente sempre atrasada ou eu só não estava afim de ir nesse rolê?

Hm, nunca parei pra pensar em como eu acolho as pessoas.

Eu realmente esqueço muito das coisas, isso me irrita muito.

Eita, eu sempre cozinhei por obrigação, mas acho que demonstro carinho pela comida / cuidando das pessoas.

Durante minhas viagens eu separo pelo menos uma página no meu caderno para escrever “tudo o que as pessoas me contaram sobre mim”. E foi assim que descobri que muitas vezes não sou corajosa, sou imprudente. Que eu falo tão firme quando estou brava que chega a dar medo. Que eu sou como a mãe dos grupos, sempre cuidando de todos.

Tem coisas boas e coisas ruins. As partes boas, reconheço. As ruins, repenso.

O triste é que por ser o olhar de uma pessoa que não é tão próxima de nós, levamos mais em conta o que falam. Porque pode ser que sua melhor amiga sempre ressalte mais as suas partes boas e não puxe a tua orelha quando precisa.

9 | Registros de mim

Muitas vezes não paramos realmente para nos ouvir, ou temos dificuldade em organizar os nossos pensamentos. Algo que tem me ajudado é colocar pra fora o que está dentro. Pra você, pode ser que funcione como forma de escrita, escrever o que está sentindo, o que está pensando, se questionar e se responder numa folha e não na cabeça.

Também pode ser que você prefira se gravar áudios, falar em voz alta. Depois se ouvir e pensar no que falou, se ouvir e ver como se sente ouvindo o que gravou. Gravar em vídeo e também se observar, ver onde você se encolhe, onde você parece mais confortável, o que te engasga.

Tem pessoas que usam até mesmo desenhos para se expressar, para externalizar sentimentos, pensamentos e sensações. Existem muitas formas de materializar os nossos pensamentos e eu gosto de chamá-los de registros de mim. Formas de registrar quem sou naquele momento, e, depois, rever para observar minhas fases, minhas mudanças.

Agora sem falar de autoconhecimento na viagem sozinha em específico, mas é MUITO incrível ter registros nossos da vida. De nossas etapas, de histórias que passamos na viagem que já nem lembramos mais, de dificuldades. Olhar pra essas fases daqui uns anos e ver o caminho que percorremos.

10 | Construção de quem quero ser

A partir de tudo isso junto e misturado: quem é a pessoa que você quer ser?

Pra mim é muito mais confortável me refazer, me reconstruir quando estou longe de pessoas que conheço. Lembro que na viagem me arriscava a dizer mais sim para rolês que eu normalmente negaria de cara. E também a dizer “não” quando eu quero, só que sem sentir vergonha.

Quando eu voltei do meu longo mochilão pela América Latina lembro de comentários de amigos próximos me comparando comigo mesma. Eles ficaram longe de mim por muitos meses, e quando voltei, ouvia: “mas antes você gostava de ir a tal lugar, gostava de tal música, não se importava quando eu falava isso, você era mais assim, mais assado”. Eu ERA.

Entre tantos aprendizados, eu acabei construindo uma versão mais próxima de quem eu quero ser hoje. E pode ser que daqui um tempo eu na verdade queira ser outra coisa. Mas, sem dúvidas, viajar sozinha me levou muito mais perto de uma versão que eu admiro ser e estou orgulhosa por ter ajudado a criar.

11 | Suas raízes

Agora, sem ser de viagem, mas ainda vale muito a pena falar: converse com as pessoas da sua família, amigos próximos de longa data. Nós somos feitos de diversas relações, elas nos moldam e nos ajudam a criar quem somos. Saber deles, das histórias, crenças, inseguranças, medos, também nos ajudam a reconhecer o que absorvemos com eles.

Pode ser que você não tenha medo de altura, mas de tanto o seu pai falar, desenvolveu um grande receio. Ou que a sua mãe tem muita insegurança com o trabalho, e você tem o mesmo comportamento que ela. O que de bom você absorveu? Teve algo que de ruim? O que faz sentido pra você?

Pode parecer besta, mas falar até de história da família, de antepassados, entender tudo o que foi necessário acontecer para chegar até aqui. Saber de problemas de saúde, como sua mãe lidava com a menstruação, cólicas, ou problemas intestinais, de ansiedade… te ajuda a entender quem você é hoje.

Na viagem sozinha nos observamos muito hoje, com o olhar de onde estamos pra frente… mas autoconhecimento não é só olhando pro agora, pra nós, é olhando pra tudo que existiu antes de nós também.

Nós temos muito mais das pessoas próximas do que imaginamos. Li essa frase e vale a pena o lembrete: “Ancestralidade não é lugar de destino”. Você saber de onde veio não quer dizer que tem que estacionar onde está.

12 | Terapia

Muitas vezes não conseguimos olhar sozinha para as nossas questões de vida, lidar com as crises e traumas. É para isso e muito mais que fazer terapia pode te ajudar. São pessoas que sabem quais ferramentas te dar, na hora que você precisa, para que você se questione, pense sobre seus atos e pensamentos.

É diferente de conversar com amigas, família, pessoas próximas e que confiamos. E até por ser uma pessoa desconhecida pode nos deixar desconfortáveis no começo. Afinal, por que vou me abrir com alguém desconhecido? Mas, com o tempo, você vai se sentir até mais confortável em se abrir, em falar de seus medos, sonhos, mostrar o seu lado que menos gosta, porque ali vai ser um ambiente seguro.

Aliás, existem diversas abordagens da psicologia, algumas você vai se identificar e outras não. Seja qual for, uma delas vai te dar as ferramentas que precisa para se questionar profundamente, se olhar com outros olhos.

O autoconhecimento na viagem sozinha

Quando falamos aqui e repetimos incansáveis vezes que viajar sozinha nos traz autoconhecimento, na verdade nós buscamos ele. Ele não vem até nós, ele está presente em vários lugares e nós que buscamos enxergar ele.

O autoconhecimento na viagem sozinha vai ser aquele encontro inusitado no hostel, uma nova melhor amiga do dia pra noite, uma situação desconfortável na rodoviária, a sensação de solidão num pôr do sol incrível, o amor e orgulho de si mesma ao voltar pra casa.

Nesses e em tantos outros momentos da viagem sozinha vamos construindo o nosso processo de autoconhecimento e a nós mesmas.

Tem como fugir de si mesma?

Mas claro que é importante lembrar também que viagem pode ser fuga, pode ser querer fugir de si mesma e dos problemas que tem. Mas…Os seus problemas vão e voltam com você!

Por isso que falamos também na viagem sozinha: não adianta fugir e viver viajando, os problemas vão com você porque você leva os seus padrões com você. Viver na estrada viajando vai acabar reproduzindo os seus problemas em outros trabalhos, em outras relações, em outras amizades.

Enquanto você não se encarar, de verdade, de frente: não adianta viajar para fugir deles.

Faça realinhamentos com você mesma

Passamos por algumas crises em nossas vidas que vem para nos tirar do automático, nos parar e nos fazer refletir para onde queremos ir a partir dali. Não continuar andando porque era pra onde a gente estava indo, mas para realmente nos questionarmos a fundo o que queremos para nós, o que temos que deixar pra trás, o que vale a pena dedicar mais tempo

Volta e meia separe um tempo pra você e se questione, pontos fracos e pontos fortes, o que gostaria de mudar: como colocar isso em prática?

Faça algo por você nesse momento em que se sente perdida, volte a se olhar para se realinhar com você mesma, com o que precisa agora, com a sua nova fase. Mesmo que você não esteja fazendo uma viagem sozinha ou atenta ao seu processo de autoconhecimento, fazer esses realinhamentos nos ajudam a voltar pra nós mesmas na nossa rotina.

Por fim

Use esses seus dias, semanas, meses para viajar na sua própria companhia e se curtir ao máximo. Não se prenda também em se observar 100% do tempo e se desconectar do contato com o outro, com as oportunidades que surgem. O processo de autoconhecimento na viagem sozinha não é para ser cansativo e árduo, é ser um olhar de fora pra si mesma.

E pra isso, você tem que viver os seus dias e ir se observando, como uma espectadora de si. Esse pode ser o centro da sua viagem sozinha, apenas não deixe a busca pelo autoconhecimento te enrijecer para só enxergar isso na sua viagem e perder tudo o de incrível que o contato com o outro também pode te trazer. Aproveite tudo o que tiver e quiser aproveitar!

No próximo texto vou falar melhor sobre algumas armadilhas do autoconhecimento e como você pode ficar atenta. Se quiser ouvir histórias de mulheres viajando sozinha e autoconhecimento, vem aqui que você vai se deliciar com esses textos!

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