Somos produtos da nossa cultura, onde nascemos e crescemos. Meio clichê. Mas se isso é verdade, quem eu era antes de tudo isso? Quem sou eu então?
Se eu tivesse nascido na Inglaterra, quem sabe eu não gostasse mais do frio que do calor. No Tibet, provavelmente seria Budista. Na Tailândia, talvez minha comida favorita fosse escorpião. Na Alemanha, poderia achar muito difícil aprender português. No Sri Lanka, acharia estranho ver homens usando calça e amaria comida super apimentada. Na Índia, é muito provável que eu estivesse acostumada a cozinhar agachada no chão e não me preocuparia com papel higiênico. No Cambodia, acharia estranho usar privada. Em Ladakh, pareceria normal não tomar banho todo dia e muito provavelmente eu não hesitaria ao ter que comer arroz e feijão com as mãos. Na Austrália, talvez não escovasse tanto os dentes. No Nepal, dormiria tranquilamente sem colchão na cama. No Omã, talvez nunca teria passado pela minha cabeça me tornar vegetariana.
Quem sabe então não posso ser o que eu quiser?
Essa reflexão foi fruto de algumas vivências dos últimos anos. Morei um ano em um hostel na Austrália, onde trabalhei e fiz amigos do mundo todo. Voluntariei no Camboja, aprendi sobre permacultura, morei por 3 meses nos Himalayas, mochilei pela Índia, fiquei 10 dias em silêncio meditando no Nepal, vivi um romance no Sri Lanka, me encantei pelas paisagens paradisíacas e povo acolhedor do Omã. Sem contar na viagem profunda para dentro de mim mesma.
A interação aberta e sincera com o novo nos permite conhecer melhor a nós mesmas. E muitas vezes não precisamos ir muito longe para isso. Convido vocês a começarem por perto, quem sabe na sua própria cidade você não descubra uma maneira diferente de viver e ver a vida? É assim que começa uma viagem sem volta ao que estávamos acostumadas a ser.
| Continue acompanhando a viajera Alana Belei no @alanabelei |Uma volta ao mundo me mostrou que posso aprender e ser o que eu quiser. Desenvolvo pesquisa de mestrado sobre o Bem Viver e pensamento decolonial no PROCAM/USP, atuo no Mutirão pelo Bem Viver construindo territórios agroecológicos e continuo me aventurando pela vida.
Elas Viajam Sozinhas
Quando viajamos é muito fácil olhar a cultura do outro com o olhar da nossa cultura, e principalmente, julgar a cultura do outro. “Como assim eles não têm privada?”, “Esses ônibus de viagem são muito desconfortáveis, todos ficam em pé”, “Nossa, eles comem muita fritura” e por aí vai.
Precisamos tomar cuidado para não viajar com a cabeça de comparação de culturas: não existe uma melhor ou uma pior, existem culturas. Viajar nos abre a conhecer outras formas de viver, de ver a vida e é um momento que podemos aprender. Imagine só descobrir que você, na verdade, ama comer com as mãos? Ou que tem uma filosofia de vida em Madagascar que você se identificou? Quem sabe você se apaixone pelo cinema taiwanês? Ou então que tem um tempero da Etiópia que você quer sempre ter com você?
Ao mesmo tempo, existe um mar de possibilidades culturais que vão te mostrar mais sobre quem é você e o que você simplesmente está acostumada a fazer por conta da nossa cultura brasileira. Quem sabe você não descubra uma versão sua que você se sinta mais confortável?
Autoconhecimento
Viajar sozinha acaba sendo uma oportunidade a mais para se descobrir. Quando estamos na companhia das outras pessoas acabamos nos fechando mais para contato com o mundo externo, observando menos os lugares porque temos mais distrações. Viajar sozinha nos dá a oportunidade de apreciar as diferenças que temos, as semelhanças, conhecer diferentes pessoas.
Inclusive, tem uma frase icônica do escritor Mark Twain: “viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e ideias limitadas”. Mas a verdade é que viajar pode até reforçar estereótipos que temos. Leia mais nesse texto aqui da Luísa Ferreira do Janelas Abertas!
A dica que fica é: vá, viaje o mundo, sozinha ou acompanhada, mas não compare culturas ou hábitos. Busque entender os porquê, ouça o que eles têm a dizer, e aprenda com outras culturas.