Medo, esse é um dos primeiros sentimentos que temos quando pensamos em viajar sozinha. “E SE… [insira todo e qualquer tipo de hipótese aqui].” E sim, tudo isso o que você pensou pode acontecer. Inclusive nada disso pode acontecer. Nada é mais cruel do que a nossa imaginação.
Por sermos mulheres e sabermos dos riscos que corremos nas nossas próprias cidades, lendo notícias todo santo dia, pensamos nos piores cenários possíveis. Não é por maldade, é por proteção. Falar desse medo não é ruim e pode nos ajudar a lidar com ele. Não espere o seu medo ir embora para fazer algo que quer, porque pode ser que ele nunca vá e você nunca faça nada. Vai com ele, é uma companhia importantíssima.
Ele vai te deixar alerta quando se sentir em perigo, vai te fazer mentir pra aquela pessoa dizendo que não está viajando sozinha, fingir que envia um áudio pra alguém mesmo sem internet, vai te fazer trocar a rota porque tal rua estava muito escura e por aí vai. No fim, são truques de sobrevivência que qualquer mulher brasileira já usa no dia a dia, infelizmente.
Mas esses medos, medo do desconhecido, medo do que imaginamos, medo da solidão, medo de tomar decisões, medo de se perder, medo de não conseguir se comunicar quando viajar sozinha … são normais. Muito mais normais do que imagina.
Converse com o seu medo antes de viajar sozinha
Uma vez decidido viajar sozinha, uma chuva de pensamentos nos fazem desistir da ideia de ir. “Mas e se algo ruim acontecer onde eu estiver? E se algo ruim acontecer com alguém da minha família e eu não estiver? E os amigos?” Isso é normal, é a nossa forma de defesa do desconhecido.
A questão é que você está usando hipóteses que nem aconteceram – e podem ser que nem aconteçam – para não viajar sozinha. O medo chega a nos tomar por inteira até você ser o seu próprio freio.
Em outras palavras, o medo fala mais alto para te convencer de não ir viajar sozinha. Se você quer algo diferente, descobrir novas rotinas, outros mundos, formas de viver, e aprender também um pouco mais de você, vamos conversar sobre esses medos?
E se… eu não conhecer nada?
Se você tem medo do desconhecido, conheça. Pesquise os lugares que você quer ir, pesquise o que tem pra fazer, veja vídeos de pessoas por lá, fotos. Sinta que conhece um pouco mais, mesmo que de longe. Para ter aquela sensação de chegar no lugar sabendo onde fica o ponto do açaí, o lugar da praia mais tranquilo, o barzinho agitado, ou o melhor PF da cidade. Não se sentir tão deslocada.
Se você tem medo do imaginado, converse. Pesquise mulheres que já foram para o lugar que você quer ir, de preferência sozinhas, e fale com elas. Tire suas dúvidas com alguém que realmente viveu o que você quer viver.
E se… eu sentir solidão?
Se você tem medo da solidão quando viajar sozinha, abraça ela. A solidão não é nossa inimiga, ela é a nossa própria companhia. Comece a sair com você mesma, se leve pra tomar um café, ir a uma livraria, pra jantar, andar na rua da sua cidade. Mesmo desconfortável, vá. Mesmo com olhares tortos, vá.
E quando a solidão vier, que ela seja uma oportunidade para você desfrutar e fazer algo que ama sozinha. Sem ninguém te dando horários, escolhendo onde comer, o que fazer, para onde ir. Faça isso até a solidão virar solitude e você desejar ter esses momentos com você mesma. Afinal, você é e será a única companhia que tem pro resto da sua vida.
E se… eu não saber tomar decisões?
Se você tem medo de tomar decisões, entenda que pode mudar a rota. Não existem decisões certas e erradas, existem decisões tomadas para o que queríamos naquele momento. E se mudamos, então é só mudar a decisão junto. Pode ser que você tenha medo do julgamento de outras pessoas, ou que a sua decisão não seja realmente o que você queria. Nesse caso, muda a rota, nunca é tarde.
E se… eu não conseguir me comunicar?
Se você tem medo de não conseguir se comunicar, viaje pelo Brasil. Eu que viajei toda a América Latina sempre digo que não tem nada como o Brasil. Nossas cores, sabores, ritmos, mares, rios, pessoas… não tem nada igual. Viajar sozinha não precisa ser pra fora do Brasil. Mas, se for cruzar fronteiras, se prepare antes com o básico da língua local, baixe um tradutor offline, e não tenha vergonha de arriscar.
E se… os outros estiverem certos e eu sou doida?
Se você tem medo do que os outros estão te falando, estão te dizendo, pense se essas pessoas sequer viajaram sozinhas ou foram para onde você quer ir. Uma vez que superamos as nossas próprias barreiras e nos motivamos a viajar sozinhas, vem a parte do compartilhar com os outros sobre essa decisão tão importante para nós. Não é fácil encontrar pessoas que nos apoiem a viajar sozinha, mas foque em quem te apoia e quer participar desse processo com você.
Não adianta compartilhar planos e vontades com quem não entende e não vai nos apoiar. Lembre-se sempre: o medo dos outros não precisam ser seus. O que eles tem é medo de algo acontecer com você quando viajar sozinha, não é por maldade, é por proteção também. Mas busque compartilhar planos e vontades com quem vai te ajudar, buscar informações junto com você para que você vá mais preparada.
E se… eu me perder?
Se você tem medo de se perder, baixe um mapa offline. Juro, a dica pode parecer besta, mas eu sou uma pessoa bem perdida ao andar na rua e me perdia com facilidade na minha própria cidade. Se perder em uma cidade desconhecida são outros 500. Por isso, baixei dois aplicativos de mapas para usar offline enquanto viajava sozinha e fiquei mais atenta aos lugares, ruas, para me localizar melhor.
E se… eu for muito tímida pra viajar sozinha?
Se você tem medo por ser muito tímida, não precisa ser extrovertida para viajar sozinha. Você nem sequer precisa fazer amizades se não quiser. Aproveite os seus momentos de solitude. Ou então, escolha visitar lugares que você goste, e assim as chances de se conectar com alguém parecida com você é grande.
E se… algo acontecer com alguém que você ama?
Se você tem medo de algo acontecer com quem você ama enquanto está fora, isso pode acontecer mesmo você estando em casa. Não temos como prever o que ou quando algo pode acontecer. Algo que me ajuda com isso é manter contato com a família sempre que posso, mandar fotos, fazer vídeos chamadas, perguntar deles, contar dos meus dias. Me fazer presente mesmo longe. E, se algo acontecer e eu tiver que voltar às pressas, tenho uma reserva de emergência financeira.
E se… algo acontecer com você?
Se você tem medo de algo acontecer com você, infelizmente isso pode acontecer viajando sozinha ou na sua própria cidade. É difícil lidar com a sensação de que estamos nos colocando em risco, mas não precisa mergulhar de cabeça. Se você quiser, molha o pé na água, respira fundo e vai entrando aos poucos. Viaja sozinha por um final de semana, depois uma semana.
Tem pessoas que precisam sentir aos poucos, e outras que já querem se jogar de uma vez mesmo com medo. Não importa qual das duas você é: saiba que esse medo não é só teu. A maioria de nós sente esse mesmo medo de viajar sozinha, por medo de que algo aconteça com a gente. Desde o risco mais simples, como ficar doente, em que você pode contratar um seguro viagem para ficar mais tranquila e ter cuidados caso precise.
Porém, temos também o medo de que algo mais grave aconteça, como uma situação de violência. Esse risco corremos nas nossas próprias cidades, mas como conhecemos o local, como funciona, lugares e horários, temos rede de apoio, nos sentimos mais seguras. Faça o mesmo por onde viajar. Chegue lá, vá com calma, saia mais de dia, converse com as mulheres que estão viajando por lá, as mulheres que moram ali, e vá descobrindo aos poucos o que você se sente confortável e segura para fazer.
Abrace o medo para viajar sozinha
Saiba que essa segurança em viajar sozinha dificilmente será 100%. Então, o que podemos fazer é viajar sozinha com o nosso medo mesmo. Ele vai funcionar como um alarme dentro de nós que vai nos alertar onde, quem ou o que podemos evitar. Usar os truques de segurança que já temos e usamos no dia a dia.
Faça esse exercício, anote seu medo ao viajar sozinha e pense em como você pode levar ele pra viajar com você. O que é possível fazer para que esse medo não te trave? Existe mais uma lista de outros “e se…” que não estão aqui. Seja qual medo for, converse com ele, entenda o que ele está querendo te dizer e pense em soluções para lidar com ele.