Reencontro com o mar e comigo mesma

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Muitas vezes a viagem sozinha vem para nos realinhar, nos fazer ficar com a gente tempo o suficiente para nos lembrar das nossas prioridades, o que precisamos cuidar melhor. Para Gabi o reencontro com o mar depois de 20 anos longe foi o que a fez repensar sobre se colocar em primeiro lugar.

Um misto de sonho com desapego, envolve um término de relacionamento e desemprego. Foi tudo isso ao mesmo tempo que me levou a viajar sozinha para reencontrar algo que tanto amo, mas que não ia há anos: o mar.

Relato de Gabi Camile de São Bernardo do Campo (SP) para Guarujá (SP)

“Eu não sei ficar sozinha”

Sempre namorei desde nova. Tive relacionamentos longos, curtos e médios. Nunca fui uma pessoa de sair sozinha ou apenas com amigos. Meus namorados eram meus melhores amigos e consequentemente minha companhia para tudo.

Eu sempre quis conhecer muitos lugares, mas a condição financeira e morar numa cidade do interior, longe de tudo, me impediam também de ir atrás desse sonho. Em Janeiro/22, tudo mudou. Eu estava em um relacionamento a pouco mais de 2 anos, infeliz, mas ainda com expectativas de que teríamos nosso final feliz.

Me mudei para uma cidade maior, onde comecei a ter oportunidades melhores de trabalho, mas não havia apoio por parte dele. Estávamos a apenas 4h de distância, mas foi o suficiente para que, em maio, terminássemos. Pouco tempo depois, ele estava em um novo relacionamento e eu havia acabado de perder o emprego.

Já estava saturada de nunca correr atrás dos meus sonhos e toda essa situação caótica de término, desemprego, contas atrasadas. Resolvi usar meu acerto para realizar meu sonho de voltar a praia. Eu precisava me isolar, colocar a cabeça no lugar, pensar o que iria fazer da vida.

Afinal, passei os últimos 10 anos me anulando, deixando de fazer o que queria, pela falta da companhia dos outros e me tornei muito dependente emocional.

Eu precisava virar o jogo, reagir, voltar a me valorizar e me amar, da mesma forma que eu fazia antes dos meus relacionamentos. E essa vontade foi suficiente para me fazer comprar as passagens. Comprei as passagens numa Sexta, mesmo dia em que recebi o acerto do trabalho, para viajar no dia seguinte. Eu precisava muito desse momento só meu.

Ansiedade para ver o mar

Foi minha primeira viagem solo, após 20 anos sem ir à praia.

Na noite anterior, dormi apenas 4h de nervoso e ansiedade.

Medo de ter algum problema, de acontecer algo, afinal eu estava indo pra uma cidade que nunca tinha ido, onde não conhecia ninguém e sozinha, sem ter alguém do meu lado que pudesse me auxiliar de alguma forma.

Acordei cedo no Sábado, fui para a rodoviária com uma mochila e uma coberta nas costas, consegui dormir um pouco no caminho. Apenas 1h de viagem que pareciam 10h. Cheguei na rodoviária do Guarujá, estava chovendo, frio, pensei: “meu Deus, o que eu tô fazendo?”. 

Eram 12h e eu faria check in apenas às 14h no hostel, estava com fome, sede, joguei no Maps os locais próximos para comer primeiro e depois pensar o que iria fazer. Não sabia qual ônibus pegar e queria economizar ao máximo, fui a pé.

Cai direto em uma das avenidas principais da cidade que, ainda bem, é uma cidade pequena. Parei em um fast food, tentando acalmar a ansiedade de ir logo ver o mar que era no final dessa avenida. Comi, vi a localização do hostel e a distância até a praia. Eram 13h ainda, fui para a praia de Pitangueiras, com coberta, mochila e tudo, eu precisava ver o mar.

O mar e eu

Antes mesmo de atravessar a rua, senti as lágrimas escorrendo. Não consegui me conter. Eu chorava como uma criança que havia acabado de perder um brinquedo, mas eram lágrimas de felicidade, de alegria, ainda sinto essa emoção como se tivesse sido ontem. O tempo estava horrível, nublado, chuviscando, frio, mas nada disso atrapalhou esse momento.

Fiquei durante 1h apenas observando a imensidão do mar, as ondas quebrando, sentindo a paz e a tranquilidade invadindo meu corpo e me fazendo esquecer todos os problemas que haviam ido junto comigo até ali.

Voltei ao Maps, agora fui em direção ao hostel. Fui muito bem recebida, adorei a casa, o pessoal que iria dividir quarto comigo eram super tranquilos, a casa era toda equipada, eu só precisaria comprar minha comida para o jantar e café do dia seguinte. Guardei minhas coisas, troquei de roupa e corri de volta para a praia, que era próximo ao hostel.

Nunca vou esquecer a sensação de pisar na areia macia, fofinha, sentir a água chegando nos pés. Fazia anos que eu não me sentia tão feliz, tão bem, tão completa e tão cheia de mim. Eu estava sozinha, mas eu não me sentia só, pela primeira vez em muito tempo.

Fiquei até o entardecer na praia ouvindo o som do mar, sentada na areia refletindo e pensando em quantas oportunidades eu havia perdido na minha vida, por sempre priorizar demais os outros e de menos a mim.

Amizades no hostel

Passei em um supermercado no caminho do hostel. Nesse dia, iriam fazer uma festa junina com direito a caldo verde e tudo. Fiz amizades com o pessoal que estava hospedado no hostel, a maioria eram de SP também. Eu, que sempre fui uma pessoa fechada, tímida, na minha, nunca imaginei que me sentiria tão bem conhecendo pessoas novas e fazendo amizade.

Ficamos até de madrugada conversando, estava chovendo, todos os hóspedes ficaram no hostel. Domingo de manhã, o pessoal acordou no mesmo horário, foi automático todo mundo levantando junto. Alguns saíram para tomar café na rua, outros ficaram no hostel.

Foi aí que conheci um casal super simpático que estavam no quarto ao lado. Um dos amigos que estava no mesmo quarto que eu, estava conversando com eles e nos convidaram para irmos a outras praias conhecer mais da cidade.

Meu Domingo que seria apenas de mais uma praia, se tornou melhor ainda conhecendo mirantes e praias mais afastadas que, a pé, eu não teria conseguido ir. Aproveitamos muito, almoçamos no caminho de volta e às 14h estávamos no hostel novamente.

O check out seria 12h, mas como foi um final de semana tranquilo, deixaram eu manter minhas coisas guardadas até 17h, que seria o horário de voltar pra rodoviária e vir pra casa.

Despedida do mar

Voltei mais uma vez até a praia e fiquei durante algumas horas ali, apenas sentada observando o mar. Me permiti chorar e deixar ir, tudo que eu não queria que voltasse comigo dessa viagem. Liberei perdão, deixei a mágoa, a raiva, a tristeza irem embora, eu queria voltar pra casa diferente, como uma pessoa mais leve. Queria deixar meus erros para trás e voltar buscando o melhor pra mim, me valorizando, me priorizando e nunca mais deixando de fazer o que sonho, por medo, por insegurança, por falta de amor próprio.

Eu me despedi do mar, temporariamente, com a alma mais leve, com o coração em paz, com a cabeça tranquila. Voltei para casa com a sensação de dever cumprido, de orgulho por ter me permitido viver essa experiência. Voltei querendo mais e mais, planejando as próximas viagens solo e desejando que todo mundo tenha essa experiência, pelo menos uma vez na vida.

Dicas para a sua primeira viagem sozinha

A primeira vez é a mais difícil, a que bate maior insegurança e medo. Mas depois que você volta, você cria coragem e aprende a ter o hábito de querer fazer tudo sozinha, você deixa de ter vergonha de frequentar um shopping sozinha, um show, um bar, um ponto turístico que queria muito conhecer. Você passa a não se preocupar mais se estão falando de você ou não, porque você volta tão focada em você mesma, que nada lá de fora consegue tirar sua paz.

Decida o destino que quer ir, a data, conheça as rotas, veja a localização entre os pontos turísticos e hospedagem, defina se a viagem será de carro ou transporte público e tente se informar ao máximo, procurando relatos na internet de quem já foi, as avaliações do local e só vai! Se permita esse momento só, deixe ir tudo que não te acrescenta e se preencha de coisas boas, se abra pro novo e deixe fluir.

Procure hostel que tenha armário para guardar suas coisas, hostel sem chave, não rola. Dinheiro nunca é demais, tenha a quantidade suficiente pra não precisar ficar economizando demais e deixando de fazer coisas que queria ou frequentar lugares, porque está com pouca grana. Compre comida no supermercado, sai mais barato que parar em restaurantes e padarias todos os dias.

Dica final da Elas

Sempre dizemos aqui que viajar sozinha não é sobre ir até o outro lado do mundo, milhares de quilômetros da sua casa. Viajar sozinha é ir até um outro lugar diferente da sua cidade, sozinha. Pode ser um ônibus de meia hora, que seja. É você estar um tempo com você mesma, na sua própria companhia, se observando, se cuidando, se descobrindo.


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