O autoconhecimento pode vir com a força da estrada, que nos ensina como o desconhecido, cheio de nuances e surpresas, pode nos render descobertas de nós mesmas.
Nordeste, Brasil | Maio 2019 – Por Julia Saraiva
A estrada, juntamente com a busca do viver em totalidade e honestidade consigo mesmo tem uma força que eu não conhecia. Mesmo nos momentos em que os questionamentos sobre o que significam conceitos como lar ou casa não me deixam descansar. Tem dias que viajar sozinha não é bonito, que sequer encontro meios de manifestar ou compartilhar algo. A vivência também é catártica, crua, vulnerável, com quebra constante de expectativas. Ainda estou no meu segundo mês de estrada e ela já é impossível de descrever.
Viajar sozinha é estar aberta a tudo que não acontece por acaso e também descobrir que cada canto guarda uma ou mais das melhores pessoas que você vai conhecer na vida. O instante se expande e o tempo não importa quando algo verdadeiro se apresenta. Quantas despedidas cabem nesse coração que não encontra outra alternativa além de entregar-se ao momento vivido e tudo que ele carrega, eu ainda não descobri, mas caso não haja o reencontro, fica a certeza de que algo foi modificado aqui. Ou lá. Ou até mesmo destruído para ser então ressignificado. Lembro do dia em que cheguei no destino seguinte após uma carona de carro, uma de moto e uma de caminhão ou de quando inventei ir para um lugar que não conhecia de bicicleta e quase desisti no meio do caminho. Muitas vezes eu também não acredito em tudo que acontece comigo diariamente.
Guardo com afeto os momentos em que expresso a alegria rindo alto, dançando e falando em três idiomas diferentes, quase ao mesmo tempo. Guardo com amor a sensação de pisar na areia de uma praia nova e de descobrir mais um pedaço do mar. Viajar sozinha me faz aprender novas cores, sons, palavras, expressões, sabores. Me ensina sobre apego e desapego da forma mais intensa e realista possível. Me faz reconhecer minha força enquanto mulher todos os dias. Sim, essa mesma, a que se opõe ao que muitos já me disseram e que tenta ocupar o lugar que merece: o lugar que sempre quis. Seria mais fácil se eu não quisesse ocupar todos os lugares, eu sei.
Porém, há alguns anos atrás, eu não acreditava que era possível sentir tanta plenitude, que não vem apenas com a estrada, mas se intensifica todos os dias ao acordar e viver cada sentimento do início ao fim. Olho para frente e projeto os próximos destinos com a sensação de que poderia seguir indefinidamente, assim como conheço lugares que me despertam tanto a ponto de eu querer pertencer. A ideia é não olhar para trás e seguir adiante para entender onde realmente quero estar. E a imensidão do momento presente já me traz essa resposta.
Continue acompanhando a Julia!
@juliamsaraiva – A estrada me transformou dos pés a cabeça durante meses e não me deu escolha além de dedicar o restante dos meus dias para descrever sua força.